Não
há qualquer contradição entre as duas leis da termodinâmica. O
físico alemão Rudolf Clausius (1822-1888), que introduziu a
definição de entropia em uma série de trabalhos pioneiros na
segunda metade do século 19, resumia de forma concisa as duas leis:
‘a energia do mundo é constante; a entropia do mundo tende a um
máximo’. A primeira lei da termodinâmica é equivalente ao
“princípio da conservação da energia”, bem estabelecido e
universalmente aceito desde meados do século 19. O calor é uma
forma de energia, que pode ser transformada em energia mecânica, mas
a energia total (calor mais energia mecânica) de um sistema isolado
permanece constante. No entanto, há inúmeros processos físicos que
obedecem à primeira lei da termodinâmica, em que a energia total é
conservada, e que jamais ocorrem na natureza. Há quem prefira dizer
que são processos que talvez até ocorram, mas com uma probabilidade
absolutamente minúscula, dentro de um intervalo de tempo descomunal,
da ordem de grandeza da idade do universo (ou seja, praticamente
nunca ocorrem mesmo). Um exemplo simples é a troca de calor entre
dois corpos colocados em contato térmico, mas isolados do restante
do universo. A energia (calor) vai fluir, do corpo mais quente em
direção ao corpo mais frio, até que haja uma equalização das
temperaturas. O corpo mais quente se esfria e o corpo mais frio se
esquenta. É assim que acontece sempre. Nesse processo a energia
total é conservada e a entropia aumenta (tende a um valor máximo).
Mas no processo oposto (isto é, supondo que o corpo mais quente
possa se esquentar mais ainda enquanto o corpo mais frio se esfria
ainda mais), que nunca se realiza espontaneamente, a energia também
é conservada (ou seja, não há nenhuma violação da primeira lei
da termodinâmica). O problema é que nesse processo oposto a
entropia diminui, em contradição com a segunda lei. Esse processo
oposto nunca acontece espontaneamente (para resfriar uma sala
precisamos pagar a ‘conta de luz’ do aparelho de
ar-condicionado!). Há muitos exemplos desse tipo, em que a primeira
lei é obedecida (a energia total se conserva), mas a entropia
diminui, violando a segunda lei da termodinâmica. Através da
análise das máquinas térmicas, sabe-se que não é possível
retirar energia na forma de calor de uma fonte quente (uma fornalha)
e transformá-la inteiramente em energia mecânica (para movimentar
um pistão e realizar trabalho útil). Nesse processo, é sempre
necessário transferir calor para uma fonte fria (a própria
atmosfera) a fim de garantir o balanço entrópico. O trabalho
mecânico útil, portanto, não corresponde ao valor integral da
energia retirada da fornalha. Enfim, não há contradições entre a
primeira e a segunda leis da termodinâmica. Elas fazem exigências
distintas, referentes a balanços separados de energia e entropia,
que precisam ser devidamente satisfeitos em qualquer processo físico
(Silvio R. A. Salinas, Instituto de Física,
Universidade de São Paulo; Ciência Hoje, Abril de 2004).
A particularidade deste blog está em apresentar as perguntas - sobre assuntos que envolvam conteúdos de física, dos leitores (e/ou colaboradores) de revistas de divulgação científica - em conjunto com a resposta. O objetivo é “transformar” a pergunta e a respectiva resposta em um texto didático e dinâmico para o ensino de física. (http://www.sbfisica.org.br/fne/Vol7/Num1/v12a02.pdf)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Se a energia não pode ser criada e pela entropia ela torna-se indisponível, então, ao longo da eternidade, ela já estaria totalmente indisponível. O que não ocorre. Logo ou ela é criada ou ela deixa em algum caso de ser indisponível.Ou não vale plenamente uma ou outra das duas leis.
ResponderExcluir