sábado, 22 de dezembro de 2012

Tem alguma aplicação prática a afirmação da teoria da relatividade de que, para um objeto que se desloque em velocidade próxima à da luz, o tempo passa mais devagar?


Sim. Uma aplicação prática é, por exemplo, o sistema de posicionamento global (GPS, na sigla em inglês). O GPS é uma aplicação prática porque os efeitos dessa dilatação do tempo têm de ser levados em conta e corrigidos para permitir a localização de uma pessoa na superfície da Terra com uma precisão de poucos metros. É um equipamento acessível a qualquer cidadão e está presente em muitos tipos de telefones celulares.
Uma consequência dessa dilatação temporal está na radiação invisível, oriunda dos raios cósmicos, que nos bombardeia o tempo todo. Grande parte dessa radiação é composta por múons, partículas com propriedades muitos especiais. A vida em média de um múon é de 2.2 microssegundos. Neste tempo, viajando à velocidade da luz, ele deveria percorrer cerca de 660m. No entanto, essa partícula, criada no alto da atmosfera, viaja poucas dezenas de quilômetros antes de se desfazer (em um elétron e dois nêutrons).

A resolução desse aparente paradoxo está na diferença entre o relógio do observador na Terra e o da partícula. Do ponto de vista do observador, o tempo de vida média da partícula é um, mas do “ponto de vista” da partícula é outro, já que, devido à sua velocidade de deslocamento, esse tempo está bastante dilatado. Ou seja, o que nós vemos como algumas dezenas de quilômetros equivale, do “ponto de vista” da partícula, a apenas algumas centenas de metros.

Ronald Cintra Shellard - Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas
Fonte: Ciência Hoje, n. 266.

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