A percepção de tridimensionalidade está associada ao que
chamamos “visão estereoscópica”, que significa a visão combinada dos nossos
dois olhos. Nosso cérebro recebe, simultaneamente, duas imagens ligeiramente
distintas, devido à pequena distância entre os olhos na face. Ele combina essas
imagens e extrai as informações de profundidade, distancia, posição e tamanho
dos objetos visualizados. Ao bloquearmos um dos olhos, por exemplo,
comprometemos a percepção da natureza tridimensional da imagem. Portanto essa
percepção está mais associada ao nosso mecanismo de visão do que a qual que
particularidade da propagação da luz na atmosfera.
Contudo, há alguns processos físicos que podemos explorar
para “enganar” nosso cérebro. É o que acontece, por exemplo, na holografia ou
quando utilizamos óculos com lentes polaroides nos cinemas em três dimensões
(3D). A estratégia é produzir duas imagens em 2D (duas dimensões), cada uma
simulando a imagem vista por um dos nossos olhos, e explorar alguma propriedade
física que permita filtrar essas imagens até atingir nossos olhos. Assim, cada
olho vai enxergar uma das imagens produzidas, de modo a provocar no cérebro o
efeito da visão estereoscópica.
No caso dos polaroides, a filtragem das imagens é feita
porque esses equipamentos permitem selecionar e controlar a polarização da luz,
ou seja, a direção em que a onda luminosa vibra, que é perpendicular a sua
direção de propagação (definida como uma reta no espaço).
Na holografia, registra-se em
uma placa 2D, usando laser, a informação de uma imagem 3D, incluindo a
profundidade. O material transparente colocado por cima altera de forma
controlada certas características dessas ondas luminosas – promovendo
diferentes modificações em cada ponto da placa holográfica -, de modo a formar
a imagem desejada na sua propagação. Essas alterações também dependem da
direção com que a luz atravessa a placa. Assim, podem-se registrar imagens
diferentes para ângulos diferentes de propagação a partir da placa. Quando as
imagens associadas a cada ângulo correspondem justamente às diferentes imagens
de um mesmo objeto visto de diferentes ângulos, a visão 3D é reconstituída.
Antonio Zelaquett Khoury, Instituto de
Física, Universidade Federal Fluminense.
Fonte: Revista Ciência Hoje, n. 226.
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