sábado, 16 de agosto de 2014

Como é possível a identificação de corpos que tiveram contato com temperaturas próximas aos 1.000°C, como no caso do acidente recente no aeroporto de Congonhas?

Os métodos tradicionais de identificação forense de cadáveres são geralmente baseados em exames de impressões digitais, arcada dental ou ossos. Entretanto, em casos de desastres aéreos, principalmente aqueles em que houve incêndio e explosão, como o do vôo TAM 3054, frequentemente esses métodos não podem ser utilizados e temos de recorrer ao estudo do DNA.
O DNA é uma molécula orgânica constituída de longas cadeias de milhões de bases. Para identificação das pessoas, podemos estudar regiões repetitivas do DNA nuclear (chamadas microssatélites ou STRs) ou alternativamente regiões variáveis do DNA mitocondrial. O DNA mitocondrial tem a vantagem de existir em milhares de cópias nas células, de forma que sua análise é mais sensível. De qualquer forma, precisamos de cadeias de pelo menos 100-150 bases para fazer esses exames. Com altas temperaturas, as cadeias de DNA se quebram em pedaços pequenos. Se estes forem menores que o tamanho crítico de 100 bases, os estudos se tornam efetivamente inviáveis.
Na prática, mesmo em casos de explosão, frequentemente é possível encontrar alguma parte de um cadáver que não tenha sido completamente carbonizada. O DNA no interior dos ossos e especialmente dos dentes está mais bem protegido e, em um bom número de casos, podem-se obter fragmentos de tamanho adequado para análise. A identificação então é feita pela comparação do padrão genético das vítimas com familiares. No caso do DNA mitocondrial, basta a mãe, um irmão ou irmã ou qualquer outro parente em linhagem materna para a identificação.
No caso de não ser possível uma identificação dos corpos, as famílias podem conseguir uma decisão judicial de “morte presumida” para obter um atestado de óbito.

Sergio D. J. Pena
Departamento de Bioquímica e Imunologia, Universidade Federal de Minas Gerais e Laboratório GENE (MG)



Revista Ciência Hoje, Setembro de 2007.

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