Tudo indica
que sim. Os pesquisadores especulam que a Era Glacial mais recente – que inclui
os últimos 1,5 milhão de anos, quando os continentes do hemisfério norte foram
parcialmente cobertos por geleiras – pode ainda não ter terminado. A população
terrestre, então, estaria vivendo num intervalo interglacial iniciado há cerca
de 10 mil anos. Nas eras conhecidas como interglaciais, as geleiras
continentais diminuem drasticamente de tamanho e podem até desaparecer. O
mecanismo que controla a ocorrência de Eras Glaciais ainda é controvertido.
Para entendê-lo, uma das explicações mais aceitas é a chamadas Teoria
Astronômica, segundo a qual a Terra atravessa vários ciclos de resfriamento
climático, causados por alterações periódicas em seus movimentos e sua órbita.
Assim, nos próximos 23 mil anos, o clima do planeta se resfriaria, o que
levaria ao estabelecimento de novas condições glaciais.
No entanto, os
efeitos do atual aquecimento da terra, provocado pelo aumento do dióxido de
carbono (CO2) na atmosfera, podem interpor um período
“superinterglacial”, com temperaturas médias globais bem maiores àquelas
registradas ao longo do último milhão de anos. Assim, o início do suposto
resfriamento terrestre, que levaria à próxima Era Glacial, seria adiado por
alguns milhares de anos. Segundo os estudos do pesquisador Robert P. Sharp, do
Instituto de Tecnologia da Califórnia, durante uma nova Era Glacial o atual
nível do mar, devido ao crescimento das geleiras, poderia baixar até 100 m, e
as áreas de superfície aumentariam 30%. Os maiores portos do mundo ficariam
secos. Outros seriam construídos acompanhando o rebaixamento do nível do mar. À
medida que o gelo avançasse, nenhum lugar na face da Terra seria poupado. Em
regiões áridas e semiáridas, como áreas da África e do Nordeste do Brasil, por
exemplo, haveria um novo regime de chuvas, e as secas deixariam de existir.
Populações do hemisfério norte se deslocariam para regiões tropicais, mais
habitáveis.
Mais ao norte
do planeta, mesmo em locais não tomados pelo gelo, a vida humana se tornaria
muito difícil. No solo congelado, por exemplo, seria difícil captar água. O
impacto de uma nova glaciação não seria de todo negativo. Áreas hoje
inabitáveis dariam ótimos lugares para se viver. Quando as geleiras
retrocedessem, os ambientalistas teriam extensas regiões, “novinhas em folha”,
para preservar.
Paulo Roberto dos Santos
Professor do Instituto de Geociências da
Universidade de São Paulo
Revista Galileu, Novembro de 1999.
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