O sabão em
pedra que deixa a louça brilhante e perfumada é feito com o sebo de boi. Sim,
aqueles caminhões que recolhem retalhos feios e mal cheirosos nos açougues
despejam sua carga em fábricas de produto de limpeza. A “mágica” transformação é
operada pela soda cáustica, ou hidróxido de sódio. Na linguagem dos químicos,
sabão é uma substância obtida da reação entre um ácido graxo (presente na
gordura bovina) e um composto de metal alcalino (como o sódio e o potássio).
Tal reação é conhecida por saponificação. Além do sebo, a gordura que reage com
a soda costuma conter uma proporção de óleo vegetal – o mais comum é o de
babaçu (espécie de palmeira comum no Nordeste). “O sebo bovino é o mais usado
porque, além de ser barato, tem a consistência adequada. O óleo de babaçu dá
cremosidade ao produto”, diz Israel Morales Vignado, químico da indústria de
sabão Razzo. À mistura também são adicionados outros ingredientes, essa fórmula
é a base de uma gama de produtos que vai do sabão em pedra mais barato ao
sabonete mais fino. As primeiras evidências históricas da fabricação de sabão
têm cerca de 4.500 anos. “Os sumérios aprenderam a fazê-lo com cinzas vegetais,
ricas em carbonato de potássio, e óleos. Eles já usavam sabão para lavar suas
lãs”, afirma João Francisco Neves, professor de produtos de higiene da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. A técnica também foi dominada por
fenícios, celtas e romanos. Na Europa medieval, as cidades de Marselha, Gênova
e Veneza se destacaram como centros de manufatura de sabão – até hoje o
sabonete merselhês, feito à base de óleo de oliva, é considerado um dos
melhores do mundo. Mas o uso do sabonete como produto de higiene pessoal
demoraria para se disseminar: já no século 17, a misteriosa novidade espumante
ainda causava espanto entre a nobreza européia. E costumava acompanhar uma bula
com instruções detalhadas, porque praticamente ninguém na época sabia o que
fazer com ela.
Super, Outubro de 2003.
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