Primeiro, o
perito verifica a autenticidade da gravação. Falsificações costumam ser
denunciadas por cortes de edição, inserção de palavras ou diferenças de
entonação. Depois vem a filtragem das frequências sonoras, em um software, para
remover ruídos e isolar a voz que interessa. Isso facilita a transcrição da
fala, que servirá de guia. “Aí começa a identificação propriamente dita, em
duas etapas.
A primeira é a
comparação auditiva, de ouvido mesmo. A segunda é a comparação visual, através
de gráficos produzidos por aparelhos”, afirma o linguista Ricardo Molina, da
Unicamp, responsável por reconhecer o cantor Belo em conversa com um
traficante, e o ex-senador Antônio Carlos Magalhães em telefonemas sobre a
quebra de sigilo do painel eletrônico de votação do Senado. A comparação
auditiva observa o que os especialistas chamam de parâmetros da fala: de
características culturais, como sotaque e vocabulário, às pessoais, como
respiração e entonação, incluindo traços como rouquidão e língua presa.
Já a
comparação visual utiliza o chamado espectrograma, espécie de raio X das ondas
sonoras, antes produzido pelo espectrógrafo de som (desenvolvido na década de
40) e hoje substituído pelo computador. Essa segunda etapa serve mais para
tirar dúvidas e confirmar as primeiras impressões. “Ao contrário do que se
pensa, a identificação não é um processo mecanizado, mas uma análise
linguística em que o mais importante é a competência e a experiência auditiva
do perito”, diz Ricardo.
Super, Setembro de 2002
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