domingo, 6 de julho de 2014

Como os gregos saiam que a Terra é esférica?

Os primeiros sábios gregos – que não eram cientistas, muito menos geodesistas – já consideravam a ideia da esfericidade da Terra. A noção de um planeta esférico nasce provavelmente com Pitágoras de Samos (570-496 a.C) e seus seguidores. Eles acreditavam que os planetas estavam associados a esferas cristalinas, já que a esfera, para eles, significava a perfeição divina. Todo o universo, para os pitagóricos, era um modelo cosmológico esférico.
Aristóteles (384-322 a.C) também acreditava na esfericidade da Terra. Como justificativa, apresentou uma série de argumentos lógicos, dentre os quais destacavam-se o fato de que, durante os eclipses, a sombra projetada na Lua sugere forma arredondada e a variação da altura dos astros em relação ao horizonte conforma a localidade. Além disso, quando uma embarcação vinda do horizonte se aproxima do porto, avistamos primeiro suas velas, e somente depois vemos o casco.
Foi Eratóstenes de Cirene (276-196 a.C), no entanto, o pioneiro a determinar o tamanho de nosso planeta esférico – feito que o levou a ser considerado o primeiro geógrafo. Trabalhava na biblioteca de Alexandria e ficara intrigado com relatos de viajantes segundo os quais, ao meio-dia, o Sol em Siena (atual Assuã, ao sul do Egito) espelhava-se no fundo dos poços durante o solstício. Tal fato nunca era observado em Alexandria, e Eratóstenes quis saber por quê. Ele mediu o ângulo da sombra projetada pelo Sol do meio-dia em sua cidade; pesquisou a distância até Assuã (cerca de 787 km) e, baseado na tradição filosófica dos sábios gregos, considerou que a Terra era esférica.
Assim, por meio da trigonometria, concluiu que a distância entre Alexandria e Siena correspondia a um arco de 7°12’ ou seja, 1\50 de 360°. Após algumas linhas de cálculo, Eratóstenes descobriu que a circunferência de nosso planeta deveria ser de 36.375 km – precisão impressionante para a época, dado que, hoje, sabe-se que essa medida é de 40.031 km.

Arnaldo Ricobom
Departamento de Geografia, Universidade Federal do Paraná.

Revista Ciência Hoje, Maio de 2012

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