domingo, 2 de março de 2014

Qual seria o cenário após um acidente nuclear nível 7 nas usinas nucleares de Angra dos Reis e qual o alcance da radiação?

Em caso de acidente em uma das usinas da central de Angra dos Reis (RJ), devido às características dos seus reatores, o espalhamento dos elementos radioativos se limitaria às distâncias seguras de evacuação (máximo de 5 km) e de abrigagem (máximo de 15 km) previstas pelo Plano de Emergência Externo. Note que essas distâncias são definidas por normas internacionais.
Acidentes nível 6 e 7 só são possíveis em usinas com reatores que usam grafite como moderador de nêutrons, como o RMBK (reator de alta potência resfriado a água fervente e moderado a grafite) soviético usado em Chernobyl, o único acidente nível 7 da história, e o reator grafite - gás britânico tipo Magnox, responsável pelo único acidente nível 6 até hoje. Ambas são tecnologias obsoletas.
Em um reator a água, que não usa grafite nem outra forma de acumulação de grande quantidade de energia capaz de ser liberada em curto período, não existe energia disponível para a dispersão do material radioativo. Esse é o caso de cada um dos quatro reatores BWR (reator de água fervente, na sigla em inglês) japoneses, afetados pelo atual acidente em Fukushima, e os PWR (reator de água pressurizada), que juntos compõem cerca de 90% da frota mundial, incluindo Angra 1 e Angra 2.
Assim, comparações entre os acidentes de Fukushima e de Chernobyl não são tecnicamente corretas. Naquele trágico acidente na atual Ucrânia, os materiais radioativos foram dispersos em grande quantidade e a grandes distâncias devido à energia liberada pelo incêndio de centenas de toneladas de grafite no interior do reator, que levou vários dias para ser apagado, ao custo da vida de dezenas de heroicos bombeiros.
Recentemente, a Autoridade de Segurança Nuclear Japonesa (NISA) classificou provisoriamente o conjunto das quatro usinas acidentadas como nível 7, embora o espalhamento de produtos radioativos estimado seja inferior a 10% daquele que ocorreu em Chernobyl. Essa decisão vem sendo duramente criticada pela Agência Internacional de Energia Atômica.

Leonam dos Santos Guimarães

Gabinete da Presidência, Eletronuclear.

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