Primeiramente,
é necessário responder a uma questão ainda mais fundamental: o que é vida? Em
artigo recente (CH nº 191), delineamos algumas respostas possíveis no âmbito
científico, mas aqui privilegiaremos o conceito de autopoiesis (autocriação),
proposto pelos neurobiólogos chilenos Humberto Maturana (1928) e Francisco
Varela (1947-2001). Para esses autores a vida se manifesta como uma unidade
autopoiética, formada por uma rede de interações moleculares concatenadas que
produz, continuamente, os próprios componentes que participam das interações e
transformações internas da unidade e, além disso, a fronteira física que lhe dá
forma. As unidades autopoiéticas são fechadas em sua organização autoprodutora
e auto mantenedora, mas são abertas às trocas de matéria e energia com o meio.
Essas trocas dependem de uma mobilidade molecular, facilitada pelo meio
líquido.
De acordo com
essas definições, todos os sistemas que apresentam uma organização autopoiética
– não importando a forma, a composição molecular da unidade o meio onde tal
organização possa ser efetivada – seriam considerados sistemas vivos. Visto que
a água participou do processo pelo qual a vida se configurou na Terra há pelo
menos 3,8 bilhões de anos, ela se tornou essencial à vida como a conhecemos.
Isso explica a crença da maioria dos cientistas (mas não de todos) de que a
água é essencial à vida, não importando o lugar do universo em que se
investiga. Assim, a busca de água é uma boa pista, mas não deveria ser a única.
Luiz Antônio Botelho Andrade
Departamento de Imunobiologia, Universidade
Federal Fluminense
Revista Ciência Hoje, Setembro de 2004.
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