A acreção de
matéria – deposição de matéria ao redor de um astro por efeito da gravitação –
pode liberar grandes quantidades de energia em algumas situações. Uma delas é
quando consideramos que a matéria está em acreção a um objeto compacto muito
massivo.
Um exemplo é a
situação que acontece no estágio final do colapso de uma pré-supernova. A
matéria das camadas mais externas se deposita sobre um pulsar em formação na
sua região central. O pulsar, que também pode ser chamado de estrela de
nêutron, é o resto de estrelas que explodiram, as supernovas. A atração
gravitacional do pulsar acelera a matéria, transferindo lhe enormes quantidades
de energia de movimento. Isso também pode acontecer na transferência de matéria
em um sistema estelar binário, envolvendo uma estrela normal e uma estrela de
nêutron.
Em ambos os
casos, a acreção de matéria sobre o objeto compacto pode transferir energia
cinética ainda maior que aquela apontada pelo leitor. O ponto relevante é que
temos um campo gravitacional extremamente intenso na vizinhança do objeto
compacto massivo, com uma massa maior que a massa do Sol, concentrada em uma
região do tamanho da Terra. O campo gravitacional na superfície desses objetos
é mais que um milhão de vezes maior que aquele na superfície da Terra. Assim, a
gravitação transfere mais energia, por grama da matéria em queda, que aquela
produzida na reação de fusão de hidrogênio.
Sérgio Duarte
Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas
Revista Ciência Hoje, Março de 2007