Enquanto lemos as linhas
impressas no papel de uma revista, estamos nos aproveitando de uma propriedade
da natureza que nos é muito útil: a informação em um sistema fechado não
desaparece. Ela pode se misturar de complicadas maneiras em diferentes partes
do sistema, como aconteceria caso rasgássemos o papel em muitos pequenos
pedaços, mas ainda assim a informação estaria ali, distribuída em um difícil
quebra-cabeça.
A mecânica quântica nos
ensina que isso continua sendo verdade mesmo para escalas tão diminutas quanto
a dos átomos. Se em vez de rasgar o papel, escolhermos escondê-lo em um buraco
negro, estaremos dificultando bastante o acesso à informação: somente poderá
lê-lo quem também entrar no buraco negro. Esse é mesmo um preço árduo a pagar,
mas de fato essa informação ainda não foi perdida, e sim muito bem guardada, e
até aqui não há qualquer contradição com a mecânica quântica.
O problema realmente
acontece caso esperemos o buraco negro ‘evaporar’ (ver ‘Os buracos negros são
eternos ou têm fim?’ em CH 252). O físico inglês Stephen Hawking foi o primeiro
a demonstrar que buracos negros, ao contrário do que se acreditava, podem
evaporar e diminuir de tamanho, mesmo que esse seja um processo muito demorado.
Caso esperemos que o buraco negro evapore por completo, para depois procurarmos
por nossa folha de papel, descobriremos que tanto o papel quanto a informação
contida nele não mais existirão. Essa contradição entre a evaporação de buracos
negros e a lei de conservação da informação, segundo a mecânica quântica, é
conhecida como o ‘paradoxo da informação’, e ainda não se sabe quais suas reais
implicações para a mecânica quântica. Resolver esse paradoxo é um dos grandes
desafios teóricos perseguidos hoje.
Clóvis Maia
Instituto de Física Teórica, Universidade Estadual Paulista
(SP)
Ciência Hoje, Dezembro de 2008.
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