sexta-feira, 12 de novembro de 2021

As roupas realmente nos aquecem?

 Com a chegada do inverno, os armários são revirados e todo tipo de agasalho passa a ser considerado para combater o frio. Cachecóis, gorros, sobretudos… Mas, afinal, as roupas realmente nos aquecem? E qual a melhor maneira de nos vestirmos no inverno? Dicas de moda à parte, claro…

A temperatura do corpo humano é de 36,5 oC, em média. Isso se deve a processos físicos e metabólicos: se há trabalho sendo realizado, haverá calor sendo gerado. Mas esse calor precisa ser dissipado, ou seja, posto para fora do corpo para que a temperatura se mantenha relativamente constante. O suor e a respiração, entre outras funções, são mecanismos de regulação da nossa temperatura. Como o calor sempre passa do meio mais quente para o mais frio, à medida que a temperatura do ambiente diminui, nosso corpo começa a perder calor mais rapidamente e precisamos fazer algo para nos mantermos aquecido. Aqui entram as roupas.

Podemos pensar que as roupas nos aquecem, mas o mais importante é a camada de ar que se forma no interior das roupas, entre corpo e tecido. O ar dentro da roupa se aquece ao absorver calor do nosso corpo e, como está preso, a diferença de temperatura entre corpo e exterior diminui – retemos mais calor. Isso explica por que quando entramos embaixo de um cobertor, por exemplo, ainda está frio: o ar que fica preso ali ainda precisa ser aquecido. Explica também por que ao tirarmos um casaco sentimos frio: o ar quente se desloca, dando lugar ao ar mais frio, que retirará calor do nosso corpo – essas correntes de ar são chamadas correntes de convecção.

É interessante notar, porém, que beduínos, no deserto, usam roupas largas de cores escuras. Poderíamos imaginar que cores claras seriam melhores para reter menos calor, mas não é bem assim… Usar roupas escuras e folgadas realmente faz com que o ar entre o tecido e o corpo fique mais quente, no entanto ele ‘sai’ das roupas mais facilmente, devido às correntes de convecção, levando parte do nosso calor e proporcionando sensação de frescor.

 

Marco Moriconi

Instituto de Física
Universidade Federal Fluminense


Revista Ciência Hoje, Junho de 2021 (n.377).

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