Quem viaja ou já teve a oportunidade de viajar de avião, ao
prestar atenção às instruções dos(as) comissários(as) de bordo antes da
decolagem da aeronave, já ouviu o seguinte alerta: “Em caso de uma
inesperada despressurização da cabine do avião, máscaras de oxigênio cairão
automaticamente dos compartimentos localizados acima dos assentos. Puxe a
mangueira para liberar o fluxo de ar e coloque a máscara sobre o nariz e a boca
e....” Por que em caso de
uma inesperada despressurização da cabine do avião devemos usar a “máscara de
oxigênio”?
A pressão atmosférica é a consequência do peso do ar. É o
peso da atmosfera distribuído em todas as direções, em volta das coisas, que
produz a pressão atmosférica. Por isso quando a altitude aumenta, a pressão
atmosférica diminui, pois há menos ar sobre nossas cabeças.
Em regiões como a cidade de La Paz, na Bolívia, localizada
a mais de 3000 metros de altura em relação ao nível do mar, o ar atmosférico é
rarefeito (menos denso) - o numero de moléculas, por metro cúbico, dos gases
que compõem o ar, entre eles o oxigênio (O2), é menor - se comparado
com o ar atmosférico de cidades localizadas a baixa altitude, como Salvador, na
Bahia. Isso acontece devido à variação da pressão atmosférica com a altitude.
Porém, quando estamos dentro da cabine de um avião, que voa
em altitudes maiores que a da cidade de La Paz, isso não acontece porque as
aeronaves possuem um sistema que efetua o bombeamento ativo de parte do ar
atmosférico, aspirado e comprimido pelos motores da aeronave [1], para dentro
da cabine do avião com a finalidade de manter as condições adequadas (pressão
ambiente e oferta de O2 por metro cúbico) ao corpo humano durante o
voo, permitindo, assim, que os passageiros respirem normalmente [2], mesmo com
a aeronave voando em altas altitudes.
No entanto, em caso de falha nesse sistema (ou escape do ar
devido a um problema em alguma porta ou janela da aeronave) poderá ocorrer a
despressurização da cabine do avião, uma vez que, em altas altitudes, a pressão
dentro da aeronave é maior do que fora dela. Como consequência da
despressurização, o ar no interior da cabine se tornará rarefeito, ou melhor,
diminuirá a oferta de O2, por metro cúbico, dentro da aeronave. A
esta diminuição da oferta de O2 denomina-se hipóxia.
Segundo Lemos e cols. [3], em decorrência da hipóxia o
indivíduo tentará adaptar-se, seu organismo produzirá respostas em vários
sistemas e acontecerão diferentes ajustes fisiológicos, como por exemplo,
alterações na frequência respiratória e no sistema cardiovascular. Entre as estratégias para
minimizar os efeitos negativos da hipóxia está a utilização
de suplemento de O2 [3]. Por isso,
numa inesperada despressurização da cabine do avião, “mascaras de oxigênio”
cairão automaticamente dos compartimentos localizados acima dos assentos.
Conforme Bogsan [2], Vice-presidente técnico da GOL Linhas Aéreas Inteligentes, ao puxar a mangueira que conecta a máscara, o passageiro aciona um gatilho
que desencadeia uma reação química no interior do gerador químico, localizado
acima da caixa onde as máscaras ficam armazenadas, e fornece O2 por aproximadamente
12 min, tempo suficiente para que os pilotos possam efetuar a descida da
aeronave para uma altitude de voo em que se possa respirar sem o auxílio da
máscara (cerca de 3000 m, conforme o Blog Voegol [1]). Bogsan [2], ainda frisa
que o O2
distribuído para as máscaras dos pilotos não é fornecido por meio de geradores
químicos, mas sim por cilindros independentes, localizados no porão da
aeronave, que permitem o uso mais prolongado.
Fábio Luís Alves Pena,
Instituto
Federal da Bahia, Campus Simões Filho.
Referências
[1]<blog.voegol.com.br/index.php/categ/pergunte-ao-comandante>
Acesso em: 18 de jun. 2012.
[2] A.
BOGSAN. Revista GOL – Linhas Aéreas Inteligentes, 122 (2012).
[3] V. A
LEMOS; H. K. M ANTUNES; R. V. T SANTOS; J. M. S. PRADO; S.TUFIK; M. T. MELLO. Revista Brasileira de Psiquiatria, 32, 1
(2010).