segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Se toda a água subterrânea aflorasse, como os continentes seriam afetados?

 A hipótese formulada pelo leitor é altamente improvável. É parecida com: " o que aconteceria com as pessoas que vivem na Terra se a força da gravidade sumisse de repente?" Sabemos que somos "colados" ao chão graças à atração mútua existente entre nossos corpos e a Terra. Como a massa do planeta é muitíssimo maior do que a nossa, nós é que nos sentimos "presos' ao chão. Caso, por algum motivo inexplicável, a força da gravidade sumisse, todos seríamos arremessados para o espaço devido à inércia de movimento dos objetivos situados na superfície da Terra.

Com a água, acontece algo muito parecido. Ela também seria lançada ao espaço. Sobrariam os continentes, mas, aos poucos, a Terra se desintegraria, devido à ausência da gravidade que une as rochas. É um cenário que nem o escritor de ficção científica francês Julio Verne (1828-1905) teria imaginado.

O volume total de água existente no planeta é da ordem de 1,387 trilhão de quilômetros cúbicos. A água salgada (existente em oceanos e mares) perfaz 97,2%, e a água subterrânea corresponde a "apenas" 0,62% do total, ou seja, alguma coisa em torno de 8,6 bilhões de quilômetros cúbicos. Se imaginarmos que o volume de água doce armazenado nas calotas polares e geleiras é de 2,15% do total, veremos que abaixo da superfície da Terra há muitíssimo mais do que toda a água presente nos rios, lagos e nuvens: basta calcular a soma: 97,2 +0,62+2,15= 99,97% do volume total de água na Terra.
A água subterrânea aflora na superfície da Terra pelas fontes. Em certas zonas altamente sísmicas, pode haver aumento do volume expelido pelas fontes devido ao fenômeno conhecido como "bombeamento sísmico", mas que é transitório e cessa pouco depois de um terremoto.

Concluindo, é inviável a água subterrânea aflorar por completo: ela está aprisionada e flui lentamente nos poros e fraturas das rochas, sob pressões internas que crescem cada vez mais rumo à base da crosta. Modificar a situação desse sistema natural, que perdura há milhões de anos, requer mudanças absolutamente impensáveis (Celso Dal Ré Carneiro, Departamento de Geociências Aplicado ao Ensino, Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas).

Ciência Hoje, Março de 2012.