Gatos… Eles são impressionantes. Caçadores implacáveis, dormem boa parte do dia e estão sempre prontos para executar feitos acrobáticos dignos dos melhores atletas. Quedas, evidentemente, são inevitáveis. E, nessa vida felina, subir em uma árvore atrás de uma presa tem seu preço. Por muito tempo, até a invenção da fotografia, era um mistério entender o que o gato faz para girar no ar e cair em pé. O que intrigava os cientistas era o fato de que esse movimento de rotação parecia violar uma lei básica da física: a conservação do momento angular. Em termos gerais, da mesma maneira que um corpo em repouso não começa a se mover espontaneamente, ele não pode girar. Quando se observa a queda do gato, ele começa com as patinhas para cima e, ao aterrissar, as patas estão no chão, dando a entender que ele girou de 180º, violando a lei de conservação de momento angular. Como pode?
Analisando-se sequências de fotos de queda de gatos é que foi possível verificar o que se passa, e são dois os mecanismos. Em um deles, o principal, inicialmente o gato fica arqueado, na forma da letra “U”. A “parte da frente” gira para em um sentido e a “parte de trás” gira no sentido oposto. Dessa forma ele não viola a conservação de momento angular: como cada parte gira em um sentido, o “giro total” é zero. O outro mecanismo que o gato utiliza é contrair as patas da frente e esticar as de trás. Assim, um pequeno giro em um sentido nas patas de trás, corresponde a um giro maior na parte da frente. Você pode ter experimentado algo assim sentado em uma cadeira giratória: se a parte de cima do corpo gira para um lado, a parte de baixo, juntamente com a cadeira, gira para o outro. Vale dizer que o que apresentamos aqui é um modelo da realidade. Um “gato real” não gira 180º de uma vez, mas repete essas manobras algumas vezes até poder cair em segurança (Marco Moriconi, Instituto de Física, Universidade Federal Fluminense).
Ciência Hoje, dezembro de 2020.