quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Seria possível construir um mecanismo como o dos relógios de corda em grandes proporções para geração de energia elétrica?

A corda (mola) do relógio, assim como a daqueles antigos brinquedos, armazena energia mecânica (energia potencial elástica) para suprir o gasto de energia mecânica necessário para fazer o relógio funcionar. Mas não é nada simples acumular grandes quantidades de energia dessa forma.
Um relógio é um mecanismo sofisticado que dissipa pouca energia e, por isso, é possível manter o aparelho por períodos de tempo -  horas ou mesmo dias - com pouca energia armazenada na corda. Porém é interessante observar que um brinquedo de corda, por sua vez, funciona por apenas alguns segundos ou até, no máximo, minutos, quando então toda a energia armazenada na corda se dissipa. Quem já 'deu corda' em brinquedos grandes percebe que isso exige um trabalho muscular muito maior do que fazer o mesmo com um relógio.
Assim, seria preciso um sistema com grandes dimensões para armazenar energia em quantidade comparável, por exemplo, armazenada em reservatórios convencionais, como pilhas ou baterias - agora imagine o tamanho necessário para suprir a enorme demanda energética de uma cidade, uma indústria ou mesmo uma residência. Um sistema como esse seria bastante inconveniente.
Mais do que isso: mesmo que fosse possível construir um mecanismo de corda capaz de estocar grandes quantidades de energia, seria também necessária uma fonte energética para 'dar corda'. Nesse caso, seria muito mais eficiente se tal fonte fosse usada diretamente para acionar os geradores de energia elétrica.
Finalmente, vale destacar que o reservatório de água de uma usina hidrelétrica é análogo ao 'mecanismo de corda' que guarda energia, embora não na forma de energia potencial elástica, mas na de energia potencial gravitacional, graças ao fato de a água se encontrar elevada em relação aos geradores. (Fernando Lang da Silveira, Instituto de Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

Ciência Hoje, Janeiro/Fevereiro de 2015.