terça-feira, 18 de novembro de 2014

Por que as formigas não caem quando sobem nas paredes?

As formigas, em sua maioria, apresentam nas patas uma estrutura mole, geralmente formada só por pêlos, que possibilita a aderência a superfícies verticais por meio de um mecanismo de sucção a vácuo. Essa estrutura, denominada ariolium, tem formato semelhante ao de uma pata de gato e possibilita ao inseto aderir a qualquer plano. As superfícies molhadas, inclusive, são mais rapidamente ‘escaladas’ pelas formigas do que as secas, contrariando o senso comum que muitas vezes pensa que se poderia detê-las com água.
Existem espécies de formigas que não têm ariolium em suas patas e, portanto, só conseguem andar no chão. No Brasil, porém, praticamente todas as espécies urbanas, cuja origem é africana, possuem essa estrutura, do mesmo modo que outros insetos, como moscas, besouros e alguns gafanhotos que também se apoiam nas paredes. A principal explicação para a ocorrência dessa estrutura encontra-se no processo evolutivo e adaptativo. O ariolium facilita significativamente a sobrevivência das formigas nas cidades e ajuda-as a subirem nas plantas.

Harold Fowler
Sociedade Rio-Clarense de Defesa do Meio Ambiente


 Revista Ciência Hoje, Dezembro de 2007.

Como a raiz escolhe seu caminho sob a terra?

A principal força que determina o movimento das raízes é a gravidade, impedindo que elas procurem a superfície. A ponta, ou ápice, possui células capazes de “perceber” a gravidade. Elas alteram a distribuição do ácido indolilacético (um hormônio vegetal que estimula ou inibe o crescimento de um dos lados da raiz) e provocam curvatura. Uma vez apontadas para baixo, o caminho é definido em função da busca de água ou nutrientes no solo. “A teoria mais recente sugere que o ápice é capaz de detectar os espaços vazios ao redor e seguir por eles”, diz o botânico Gilberto Kerbauy, da Universidade de São Paulo. As pontas das raízes são finas e penetram em poros bastante pequenos.

 Super, Setembro de 1996.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Como funciona a bala que explode na boca?

De laranja, morango, chocolate... Huumm! As balas são tão gostosas... Mas, como qualquer guloseima, as balas são para nos deliciar uma vez ou outra. O excesso, a gente sabe, pode provocar cáries ou causar obesidade. Mas será que existe ciência nas balas? Pode apostar que sim! Agora, por exemplo, você vai saber sobre o tipo que explode na boca.
Bala gostosa e explosiva, alguém aí conhece? Pois vale a pena juntar umas moedinhas para experimentar. Elas não causam qualquer dano à saúde e, na verdade, parecem mais um granulado do que uma bala. O segredo da sua fórmula são cristais de açúcar que guardam bolhas de gás carbônico sob alta pressão.
Mas a bala explosiva contém, ainda, outros ingredientes. Ela é produzida a partir da combinação de alguns açúcares, como sacarose e lactose ou sacarose e xarope de milho. Sua fórmula ainda leva amido, gelatina ou goma – como ágar, alginato, pectina -, ingredientes que ajudam a aumentar a quantidade de gás carbônico aprisionado, além de acidulantes, flavorizantes e corantes. Quanto nome esquisito!
Bom, mas o importante é que, na fábrica, tudo isso é misturado e aquecido sob alta pressão, até que os açúcares passem do estado sólido ao estado líquido. Neste ponto, é que o gás carbônico é adicionado à mistura. Depois, o líquido esfria, ainda sob alta pressão, para deixar as bolhas de gás carbônico aprisionadas no interior do grande torrão de açúcar que se formou.
Quando a pressão é liberada, o tal torrão de açúcar se parte em pedaços bem pequenos, como um granulado. As bolhas de gás carbônico continuam no interior dessas mini balas, que são vendidas em pacotinhos.
Abra um pacotinho desses e deixe o doce entrar em contato com a umidade da sua boca. O açúcar vai se dissolver e... Ploft! Ploft! Ploft! Você vai sentir o estouro das bolhas. O mesmo efeito pode ser conseguido se a bala for mastigada.
A fórmula dos cristais de açúcar explosivos já pode ser encontrada em outros doces, como chicletes e chocolates. Quando puder provar um docinho, experimente uma dessas delícias explosivas!

Joab Trajano Silva
Instituto de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Revista Ciência Hoje das Crianças, Outubro de 2009.

Por que sentimos calafrios e desconforto ao ouvir certos sons agudos – como unhas arranhando um quadro-negro?

Esta é uma reação instintiva para protegermos nossa audição. A cóclea (parte interna do ouvido) tem uma membrana que vibra de acordo com as frequencias sonoras que ali chegam. A parte mais próxima ao exterior está ligada à audição de sons agudos; a região mediana é responsável pela audição de sons de frequência média; e a porção mais final, por sons graves. As células da parte inicial, mais delicadas e frágeis, são facilmente destruídas – razão por que, ao envelhecermos, perdemos a capacidade de ouvir sons agudos. Quando frequencias muito agudas chegam a essa parte da membrana, as células podem ser danificadas, pois quanto mais alta a frequencia, mais energia tem seu movimento ondulatório. Isso, em parte, explica nossa aversão a determinados sons agudos, mas não a todos. Afinal, geralmente não sentimos calafrios ou uma sensação ruim ao ouvirmos uma música com notas agudas.
Aí podemos acrescentar outro fator. Uma nota de violão tem um número limitado e pequeno de frequencias – formando um som mais ‘limpo’. Já no espectro de som proveniente de unhas arranhando um quadro-negro (ou do atrito entre isopores ou entre duas bexigas de ar) há um número infinito delas. Assim, as células vibram de acordo com muitas frequencias e aquelas presentes na parte inicial da cóclea, por serem mais frágeis, são lesadas com maior facilidade. Daí a sensação de aversão a esses sons agudos e ‘crus’.

Ronald Ranvaud
Departamento de Fisiologia e Biofísica, Universidade de São Paulo.

Ciência hoje, Junho de 2011.

Por que as ondas caminham para a praia?

Nem sempre. Em alto-mar, elas se dirigem para todos os lados, geralmente acompanhando a direção do vento que as formou. “Ao chegar perto de uma massa de terra, no entanto, sua direção muda”, diz o oceanógrafo Joseph Harari, da Universidade de São Paulo. Ocorre que um lado dos vagalhões formados no oceano atinge primeiro as regiões de menor profundidade, próximas aos continentes ou às ilhas (veja o infográfico). Quando isso acontece, é como se fosse acionado um freio. A velocidade de propagação daquele lado da onda diminui e ela gira, dirigindo-se para a areia.
Uma vez que são formadas pelo vento, que em algumas situações sopra do continente para o mar, seria de se esperar que houvesse também marolas partindo da praia. Isso praticamente não acontece porque o deslocamento de ar que parte do continente é menos intenso e dura menos do que o formado em alto-mar. Assim, a pequena ondulação que consegue realizar é engolida pela outra, bem maior, mandada em sua direção.



Super, Dezembro de 1999.